Quem sou eu

Minha foto
Catanduvas, Santa Catarina, Brazil
Alguém... Nem tão complicada, nem tão simples. Alguém... Que adora ficar acordada na madrugada, que acompanha séries de TV, que cantarola qualquer coisa o dia todo, que não pode ver chocolate sem comê-lo, que ama o som da chuva, que sonha correr nas campinas da Itália, que se irrita com internet lenta. Alguém... Que gosta das coisas simples da vida como olhar uma criança brincar, ver as folhas das árvores cair, as nuvens criarem figuras, sentir nos pés a água gelada de um rio, que gostaria de ver um cometa ou uma estrela cadente, como chamamos. Alguém... Que faz as outras pessoas rirem, e muito, talvez pelo jeito estabanado de ser, pelas caretas esquisitas e pelas perguntas em horas impróprias. Alguém... Que agora toma emprestada as palavras inteligentes de Raul “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Transparência

Olhou ao seu redor e pensou.

E por estar no lugar errado, no dia errado, ela não disse nada. E tudo aquilo ficou guardado para um momento posterior que lhe estava custando o fígado e junto com ele todo o sistema nervoso, porque ele estava inteiramente nervoso.
E ficou ali, jogada, tentando ser indiferente, mas por dentro queria ser transparente.
O barulho não a incomodava, o que a incomodava era a presença, e ela estava dividida tentando avaliar qual das presenças lhe desagradava mais, se a dela mesma ou a dos outros que ali estavam.
Não era normal um sentimento desses, ainda mais para ela que sempre lidava com situações inusitadas, pessoas estraçalhadas e mais um monte disso tudo. Mas neste dia ela percebeu que alguma coisa dentro dela havia mudado, pra pior, infelizmente, e foi duro admitir isso a si. Sim, porque ela estava sentindo o peso da fraqueza que a tomava. E queria revidar.
E assim, reafirmou a si: a solução seria ser transparente.
Transparente é um termo dual. E ela era transparente, de alguma forma.
Ela era transparente porque permitia que a olhassem dentro dos olhos e descobrissem o que se passava, era transparente porque condizia com o que lhe acontecia, não disfarçava, não se escondia.
Mas a transparência não pode ser entendida por pessoas não transparentes.
Assim, ela almejava ser transparente de outra forma, daquela forma invisível, queria poder passar despercebida no local onde estava, queria não estar ali.

Mas estava.

Lembrou-se, então, daquele discurso de Veríssimo sobre defenestração. Defenestrar-se seria uma boa opção. Não saiu do lugar, no entanto, escolheu outra forma de acabar com momento, e no silêncio, partiu para um pleonasmo conveniente e “se auto suicidou-se a si mesmo”. Cometeu o crime de comprometer seu fígado ao não descanso e a queimar em amargura e ansiedade até ela mesma ter que levantar da cadeira e beber um gole de água.


Depois, deixou de olhar ao redor e de pensar. (No que fosse possível).

domingo, 27 de outubro de 2013

In memorian...

Memórias são sempre oportunas seja pra lembrar-se das coisas que precisa repetir ou daquelas que você jamais poderia viver de novo. A memória nos é interessante, pois pode nos dar suas formas sempre que precisarmos. Ela é arremessada à frente dos nossos olhos e se dissipa num piscar.
...
Senti um rebobinar de lembranças que iam se desdobrando e tornando pra uma caixa onde eu as guardei. Sim, eu as guardei porque elas ainda eram boas, eu somente não poderia usá-las neste momento e nos próximos que viriam, por um tempo.
Do avião de papel e da flor amassadinha...
Do abraço e daquele beijinho...
Das mãos juntinhas dentro do bolso...
De uma cabeça baixa e de um beijo na testa...
De estórias sobre fuscas...
De duas pessoas debaixo de uma sombrinha e de uma crise de riso...
Do desespero e do desapego...
Da vontade reprimida e do pensamento perigosamente perseguidor...
De ter que desviar...
De estar perto e sentir tão longe...
De te ver ir e te querer voltar...
De uma péssima verdade...
De dois caminhos que se separam...
De duas pessoas que se afastam sem querer, mas por não poder.

Porque a luta cansa e a perseverança morreu e matou a menina dos olhos daquele nosso último olhar.
E se desfez num mar de desesperança, de uma opção de não se tentar e de não querer errar, outra vez, mais uma vez. Sobre o que poderia incertamente ser acerto ou acertado, em algum momento.

E se desfez na fantasia de um mundo, que não é esse, como a história de uma bailarina e de um soldado de chumbo.